ACOPIARA-CE: NO DIA DO NORDESTINO UMA MÚSICA DO POETA CARLOS DEHON GRAVADA POR ALMOFADINHA DO FORRÓ RIO DE JANEIRO

08 DE OUTUBRO, SÁBADO

Nordeste...
De que adianta nascermos por aqui
Se não tem chuva nem pudor
De que adianta plantarmos aqui
Se o que só nasce é vergonha no sertão
O povo comendo mato e sobra pro boi e o vaqueiro o gibão
Esporas de dentaduras, analfabetismo,
Esmolas e escarro.
Sombrios perambulantes e seres andantes
Maltrapilhos, fumegantes...
Mato fedendo há anos
A lama e o peixe morto
Rios secando, açudes pedindo a Deus
Misericórdia pra fauna e flora
Pra casinha de taipa, pras algarobas e pro cachorro
Que late mais e grita mais ainda
Estômago de vísceras e bolsas
Pedindo, suplicando a Deus dará
O povo desse sertão que abrasa, queima arde,
Pele preta, suor de tanta humilhação
De gente que não é gente
De paletó e gravatinha
De Congresso do inferno
De Câmara de despudor
De dirigentes safados, que obriga, surra e maltrata
O povo heroico de tanto labutar
De demonstrar paciência, de gorjear no seu destino
E acho que já é hora
De criar vergonha na cara
De só gritar e se lamentar
Bater a divisa do Nordeste
No PEITO e deixar de pedir perdão
Pra que saibam que não será mais destino
Do meu povo, do meu Sertão.
(Carlos Dehon).

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